Raphael Alves - Insulae, 2020
As insulae - do Latim que deu origem à palavra “isolamento” em Português - eram a forma de habitação destinada às pessoas mais desfavorecidas na Roma Antiga. Esses edifícios - cuja construção era muito frágil, o que os tornava alvos fáceis de colapso - abrigavam milhares de pessoas em condições insalubres e em constante risco. Sem banheiros, amontoadas entre si e isoladas umas das outras, as pessoas que viviam nas insulae não tinham sequer uma saída de emergência.
Nos tempos atuais, os problemas do Amazonas também o mantiveram sempre à beira de um colapso. Mas foi durante uma situação de emergência - a pandemia da Covid-19 - que as desigualdades socioeconômicas e a falta de políticas que pensem as peculiaridades da região evidenciaram a estrutura frágil do maior Estado da federação. As distâncias e as dificuldades de deslocamento, a falta de serviços de média e alta complexidade em saúde nos municípios do interior, a falta de água e de um sistema minimamente capacitado de saneamento - situação que persiste durante um surto cuja forma de prevenção mais básica é o ato de lavar as mãos - refletiram diretamente em uma crise sanitária sem precedentes.
Famílias separadas; povos nativos e suas culturas sob constante ameaça; pessoas morrendo em suas casas sem um mínimo de chances; sepultamentos coletivos em trincheiras; vítimas da doença amontoadas em câmaras frigoríficas alocadas em hospitais. Essas são representações, recortes de uma realidade ainda mais complexa.
Não houve saída para décadas de prioridades equivocadas. A conta chegou e tal como as insulae , o Amazonas experimentou o colapso. A pandemia e o descaso cobraram um preço altíssimo: vidas. Milhares delas, agora, enterradas no isolado território amazonense.
Raphael Alves, Manaus, 2020
Tiragem limitada 30 cópias
28 páginas
15 cm x 20 cm
Preto e Branco
Primeira impressão
REF: RAL
R$ 60,00Preço